Alguns poemas do livro Flor de Sal de Mell Renault
Minha casa
esse recanto
de peixe
som
e
azul
esse lugar
abissal
de esqueletos
e ferrugem
esse canto
de lamentos
pedidos
e
ternuras
esse mar
tão longe
e
tão íntimo
casa fundada
no mergulho
é meu
refúgio.
Sangue
memoriado
de azul
concha
[dois olhos]
exoesqueleto
visão antiga.
Sangue
memoriado
de azul
navegações
ilhas perdidas
praias desertas
dentro
do mais secreto
de mim.
Sangue
memoriado
de azul
espelho d’água
sol e lua
guerras debaixo
do céu
estrelas do mar
no lugar
de espadas
peixe.
Sangue
memoriado
de azul
tempo suspenso
proas
naus
silêncios
a banhar
o mundo.
Sangue
memoriado
de azul
secreta cor
a nos formar
espinhos.
(…)
Existe aqui um rítimo secreto que acorda a onda e faz dormir o
peixe. Esse som, de tempo incontável, faz dançar as luas e barcos
navegam à deriva. No profundo – onde não há sombra – só música, estou,
presença e sonho.
Que olhos cegos não me alcancem neste teu seio tão
materno, que nenhuma mão ausente de esperança possa tocar meus cabelos,
que aqui, labirinto onde me devoro, sou outro – um mesmo ser – refeito,
redescoberto, milagroso.
Que as tentações e os precipícios, que baleias e leões marinhos sejam domados por minha fúria de nascer intacto.
(…)
(…)
O sonho é esse redemoinho que faz mover as águas e nesse fundo
azul onde tudo é e está, nesse imenso onde a vida acontece em harmonia
com a morte, nesse algar onde cantam serafins e dançam as sereias, o
sonho faz nascer a razão. Forja o sagrado e instaura o profano que
juntos navegam e naufragam.
Submerso, pertenço as funduras.
(…)
(…)
Como te deixar
silencioso mar
das minhas vísceras
[azul tingido de vermelho vivo].
Como te deixar
barulhento mar
dos meus delírios
[azul encarnado de uivos].
(…)
Tudo em você é visceral!!! Não tem como não gostar!!!
Muitíssimo obrigada, um abraço!